Onze semanas na terra do Robin Hood

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O dia mais nerd da minha vida (que me levou a escrever praticamente uma biografia)

Pensando duas vezes o título talvez não seja verdade, considerando que já fiz cosplay, já joguei Dungeons & Dragons (o que envolveu uma semana de leitura de vários Rulebooks para criar a minha personagem), já fui a uma Friday Night Magic e derivados.

Independentemente do grau de nerdice daquilo que tenho hoje para contar, o meu nerd-self acabou de chegar a casa e está absolutamente delirante!

Hoje fui ao evento de lançamento do "Seconds" com direito a sessão de autográfos do Brian Lee O'Malley na Page 45, uma loja de comics (mas sobretudo graphic novels) em Nottingham!

Já sabia deste evento desde antes de vir para Nottingham. Não me lembro bem como mas andava a contar os dias. Para quem não sabe, o Brian Lee O'Malley é o criador de Lost at Sea e do Scott Pilgrim (que talvez conheçam melhor pelo filme de Scott Pilgrim vs. the World).

Lembro-me perfeitamente de, há 8 anos atrás (irra, que estou velha) ir com o meu pai à feira do livro e perguntar ao senhor na banca da Devir: "Eu gosto muito de banda desenhada, mas não conheço muita coisa. Pode-me sugerir alguma coisa?". Naquela altura o meu mundo de banda desenhada era um bocadinho limitado.

Literalmente desde o dia em que aprendi a ler que leio banda desenhada da Disney. Tive uma infância completamente obcecada por banda desenhada da Disney e a papelaria da minha mãe ajudava à festa. Tinha todas as edições que saiam e houve ali uma altura em que a nossa casa estava impestada de Disney por todo o lado. Foram-se estragando alguns (a maioria porque os deixava na casa-se-banho, em cima do bidé, e depois levavam com água em cima) e deitando fora outros (sem eu saber, claro), mas ainda tenho caixas e caixas de Disney no escritório da casa dos meus pais, à espera do dia em que tenha uma casa com mais de 20m2 para os tirar de lá! Lembro-me de passar a vida a contar e a organizar as edições, e ficar histérica no dia em que passei dos 300 livros. A obsessão acabou por extender-se aos livros da Turma da Mónica e tudo o que lhe estava associado.

Também lia tudo o que apanhava por casa: os Asterix, os Tintin, a Fantomette, o Yakari e os Smurfs (dos últimos três só tínhamos dois livros mas li-os até a capa saltar). Pelo caminho recebi (ou talvez tenha sido uma das minhas irmãs) a colecção Toda a Mafalda, que li (lemos) n-ésimas vezes.

Entretanto um dia os meus pais fizeram-nos a colecção que estava a sair com dos Clássicos de Banda Desenhada. Li-os todos: Homem-Aranha, X-Men, Corto Maltese...incluindo que claramente não eram para os meus 13 anos como Prado, Moebius e até Milo Manara! Fiquei fascinada com a diversidade do mundo da banda desenhada. Infelizmente, não tinha muito conhecimento sobre o que "havia lá fora" e a internet ainda estava na era pré-Wikipedia (e pré-Google)

Voltando à banca da Devir, na Feira do Livro, há oito anos atrás, o senhor indicou-me dois livros: o Chicken with Plums da Marjane Satrapi (que tinha acabado de sair) e o primeiro volume do Scott Pilgrim (que ia ainda no terceiro). Voltei para casa com os dois e devoreio-os num dia.

Entretanto comprei os outros dois volumes que havia de Scott Pilgrim e continuei a comprar os restantes, à medida que foram saindo. Quando saiu o último volume já eu tinha 19 anos. Não vou fazer o discurso do "Scott Pilgrim mudou a minha vida!", mas é certo que é responsável por me ter aberto os olhos a todo um mundo de comics que eu não conhecia.

Por alguma razão, não explorei muito o mundo da banda desenhada nos anos que se seguiram. Nunca larguei a Disney, mas nos meus anos de faculdade (pareço uma idosa a falar, eu sei) continuei mais na onda dos Manga que também já lia desde os 13. Pelo caminho ainda li Blankets, que continua a ser uma das melhores coisas que li na minha vida.

Recentemente - diria nos últimos dois anos - eu e o João decidimos explorar mais a fundo o mundo da banda desenhada. O João que desde miúdo idolatera o Batman e o Wolverine sempre tinha querido ler comics da Marvel e DC mas nunca tinha começado pela razão que impede muita gente: "Por onde começar?". Um dia, na China, decidiu começar por algum lado e desde então não parou. Não o acompanhei pelos X-Men, que já leu centenas de fascículos, mas aproveitei a deixa para também recomeçar a descobrir e experimentar bandas desenhadas que nunca tinha ouvido falar, ou outras que sempre tinha querido ler.

Fastforward para o dia de hoje. Saio do trabalho directa para a Page 45. Chego lá uma hora depois de ter começado a sessão de autógrafos e deparo-me com uma fila gigante, que chega até ao final da rua.


Aguardo estoicamente. Entretanto vem uma das raparigas que trabalha na loja perguntar se tenho alguma coisa reservada ou se quero ver ou comprar alguma coisa. Digo-lhe que já tenho o Seconds pago e reservado e que queria o primeiro volume The New 52 Batman: Vol. 1 The Court of Owls e Low #1. Como não tenho dinheiro suficiente na carteira ela leva-me até ao interior da loja para pagar com o multibanco. Consegui portanto ver o Brian Lee O'Malley antes de chegar a minha vez (juro que não foi tudo um esquema)! Low está esgotadíssimo em todo o país por isso a rapariga leva-me de novo para o meu lugar na fila, com o Batman e...o Seconds!


Comecei logo a ler na fila. Aguardo estoicamente mais uma hora e meia leio quase 100 páginas. É tudo o que eu queria e muito mais! Com o avançar das horas foi ficando frio. Bolas, que tem estado frio nesta terra. Confesso que nos últimos dias já me passou pela cabeça mais do que uma vez comprar um par de luvas e só ainda não o fiz pelo ridículo que seria usar luvas em Agosto.

Finalmente chegou a minha vez e o facto de ser praticamente uma das últimas pessoas da fila acaba por ser óptimo porque ainda faltavam 20 minutos para o fim da sessão de autógrafos mas já só havia meia dúzia de pessoas na fila. Reparei que o Brian Lee O'Malley estava a fazer uns sketches nos autógrafos das pessoas à minha frente por isso quando chegou a minha vez perguntei-lhe se me podia desenhar um gato voador! E assim o fez!


Não tenho praticamente nada autografado porque raras são as ocasiões em que me dou ao trabalho. As coisas autografadas que tenho na vida são a série quase toda da série de livros da Teodora (porque a autora é amiga do meu tio), o livro da Sasha Grey e agora isto. Todo um leque de coisas muito parecidas.

Sempre tinha imaginado o O'Malley na minha cabeça como um tipo super chill, talvez derivado dos personagens dos comics. É mesmo! Deu para falar um bocado com ele e nem tive aquela sensação de estar a ser super fangirl com um famoso qualquer. Um porreiro!

Ilustração en pointe do momento.


Quando já me estava a vir embora vi exposto The Wicked + The Divine #1 que nunca tinha sequer ouvido falar, mas o artwork chamou-me a atenção e era uma edição limitada com uma variant cover pelo Brian Lee O'Malley. Não resisti em comprar - culpo o meu estado de histeria interna absoluta - e o tipo da caixa ainda passou o comic ao O'Malley para ele autografar também.

Saí daquela loja num estado de felicidade absoluta. Estava bastante ansiosa para este evento mas não estava à espera de me ter deixado tão feliz quando deixou. Fui até casa com um sorriso de orelha a orelha, feita uma parvinha.

Agora que escrevo este post, de calças de pijama do Batman e t-shirt da Lying Cat de Saga é que percebo o porquê. Não foi pelo livro ou pelo Brian Lee O'Malley per se, mas pelo facto de ter estado ao lado da pessoa que me ajudou a perceber que o mundo dos comics era muito mais do que aquilo que tinha lido até então, e que me levou a continuar a explorar, até hoje.

Agora vou ali aninhar-me na caminha, a devorar o resto de Seconds.



Nota 1: The Wicked + The Divine é brutal. A Sahkmet é a Rhianna.

Nota 2: Hoje também houve uma sessão de autógrafos do George RR Martin em Londres. Estaria a mentir se não disesse que por alguns breves momentos considerei arranjar maneira de me baldar ao trabalho à tarde, apanhar um comboio para Londres, estar horas numa fila, ver o GRRM e apanhara o comboio de volta para Nottingham, a tempo de ir trabalhar amanhã.

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