Onze semanas na terra do Robin Hood

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Chegada e primeiras impressões

A viagem de comboio até Faro fez-se bem e a de avião até ao aeroporto de East Midlands também, com o percalço de ter ficado enjoada na última meia hora de cada viagem. Estava nervosa com a ida da estação de comboios até ao aeroporto, por causa do pouco tempo que tinha. Afinal cheguei ao aeroporto com muita antecedência e ainda deu para almoçar. Também tive que andar a passar bagagem da mala de porão para a mochila do portátil, que trouxe como bagagem de mão porque a minha mala tinha dois quilos a mais. Acabei por ficar com a mochila pesadíssima e a abarrotar.

Assim que aterrei no aeroporto de East Midlands fui comprar um adaptador para as fichas do Reino Unido. Saiu-me bastante caro por ser no aeroporto, e ainda por cima só tinham adaptadores universais, mas achei que às horas a que ia chegar a Nottingham já não ia encontrar lojas abertas onde comprar um e precisava mesmo para poder usar o computador, que entretanto estava quase sem bateria, quando chegasse ao hostel.

Vim do aeroporto até Nottingham de taxi: £36. Um balúrdio! Se estivesse a ser turista tinha vindo de autocarro. Vou ser reembolsada pela universidade que me sugeriu vir de taxi por isso relaxei e não me preocupei com o dinheiro.
A primeira barraca em Inglaterra foi esquecer-me que se conduz pela esquerda. Por isso, quase que entrei no taxi pelo lado do condutor!
O percurso até Nottingham fez-se em cerca de 40 minutos, um pouco mais que o esperado pelo trânsito da hora de ponta. Conversei um bocado com o taxista e apercebi-me da triste realidade de que o sotaque de Nottingham é muito cerrado e de que não percebo metade do que me dizem. O taxista foi a pessoa, até agora, com o sotaque mais forte e houve frases que disse da qual não apanhei nem uma palavra. Às vezes nem me soa a inglês!

O caminho até Nottingham faz-se por pequenas vilas. Passámos por várias casas e bairros com um ar absolutamente adorável. Arquitectura em tijolo com gatos à janela e canteiros em flor por todo o lado. Sempre imaginei o countryside inglês assim, mas nunca achei que fosse tão amoroso ao vivo. Parece que tudo foi decorado por avós simpáticas. Já agora, uma das vilas por onde passei foi Gotham, a vila que deu o nome à cidade do Batman!

Quando cheguei a Nottingham deixei de ver "campo" para entrar numa cidade em tons castanhos, algumas indústrias e ruas muito parecidas.

Como já sabia que não ia chegar a tempo de apanhar o escritório da residência onde vou viver nestes tempos aberto, já tinha marcado uma noite num hostel no centro da cidade. Só à terceira vez que toquei à campainha, quando já estava a pensar no plano B (que não existia...), é que o recepcionista do hostel me abriu a porta. O hostel é talvez o pior em que já estive, mas não é tão mau assim que não seja confortável o suficiente para passar uma noite.  Tem uma sala/lounge com televisão, livros e jogos, duas casas de banho (só uma delas com duche) e uma cozinha grande e totalmente equipada com café, chá e leite grátis. Está um bocado velho, sujo e, no geral, não é muito bom. Em contrapartida, as pessoas, quer os hóspedes com quem já me cruzei quer o tipo que trabalha aqui, são muito simpáticas.






Achei que o primeiro dia em Nottingham ia ser solitário. A verdade é que já falei com pelo menos uma dezena de pessoas dentro e fora do hostel. Estou a partilhar um quarto de três beliches com mais três pessoas: um italiano com o qual ainda não troquei mais que um "Hi", uma australiana que está a viajar quatro meses pela Europa antes de começar a faculdade e que ficou histérica quando soube que eu era portuguesa porque adora Sintra, e um chinês.
Quando vi o chinês pela primeira vez topei-lhe logo a pinta mas pensei que pudesse ser de outro país asiático. Falámos um bocado em inglês até que lhe perguntei de onde era. Quando me respondeu que era da China não resisti a dizer "Eu sei falar chinês" em mandarim. O chinês ficou cinco segundos a olhar para mim incrédulo e só depois conseguiu articular um "A sério?!" em mandarim.  Falar de novo mandarim com um chinês deixou-me mesmo feliz! À excepção da Peng Hui - uma amiga chinesa que deu aulas de mandarim no mesmo sítio que eu - não falava mandarim com um nativo desde que voltei da China e não consegui conter o entusiasmo. Por sorte, ele estava igualmente divertido por falar a língua materna com uma estrangeira ou, como disse, "wàiguó rén". Acabei por ficar a falar com ele em mandarim bastante tempo.

Entretanto saí do hostel para passear e procurar um sítio para jantar. Queria dar uma volta nas redondezas, por isso mais valia procurar um sítio para jantar fora, em vez de comprar comida para cozinhar no hostel. Este passeio deu-me uma nova primeira impressão de Nottingham. Ao fim de meio dia já estou encantada com esta cidade. Não é nada de extraordinário, nem deve valer a pena visitar em turismo, mas há alguma coisa com a mistura de restaurantes cosmopolitas e cadeias internacionais de roupa com as lojas em segunda mão, pubs e pastelarias que me chamou logo a atenção. A maioria da arquetectura é antiga e mesmo as lojas recentes estão em edifícios restaurados. Nesse aspecto faz-me lembrar um bocadinho Leuven e talvez seja por isso que me atrai. Por outro lado, andei basicamente só pelo centro da cidade, que faz sentido que seja a zona mais bonita. A minha residência e universidade em que vou trabalhar ficam bastante afastadas do centro. Deve ser uma zona muito diferente. Amanhã vejo!


Andei à procura de um sítio com um ar mais tradicional para jantar. Não consegui encontrar. Encontrei vários restaurantes de cadeias de fast food tipo Subway e McDonalds, às quais resisti. Mesmo assim, todos os restaurantes e pubs que vi serviam apenas hamburgueres, pizzas e derivados ou então eram restaurantes de cozinha estrangeira tipo chinêses, tailandeses e italianos. Acabei por me contentar com um restaurante com um ar acolhedor e uma esplanada porque apesar de serem quase nove da noite ainda estava de t-shirt e o tempo estava óptimo (será que se mantém?). O jantar em si foi uma sandes de bacon e frango. Será que não vou encontrar por aqui nenhum restaurante de preço decente com comida "a sério"?

De volta ao hostel chegou a hora de fazer as primeiras chamadas no skype, com direito a "Parabéns" no jantar de anos da minha irmã Catarina. O cansaço finalmente alcançou-me, depois de um longo primeiro dia. Escrevo esta publicação já deitada na cama, sozinha no quarto porque os outros três estão todos de férias e virados para a festa.






Amanhã, se tudo correr bem, é dia de tratar da papelada da residência e mudar-me para o meu novo quarto!

(As fotografias estão uma miséria. Estava tão excitada que andei a tirar fotografias meio ao calhas, sem ver bem o que é que estava a fazer nem a ver se tinham ficado bem. Aguentem-se.)

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigada :D Eu continuo a ler os teus posts gigantescos para depois ter sempre uma gigante nostalgia com saudades do meu erasmus!

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