Onze semanas na terra do Robin Hood

sábado, 12 de julho de 2014

Burocracias

O dia de ontem não foi tão divertido e entusiasmante como os outros.

Recebi um e-mail da Universidade de Nottingham a dizer que para me pagarem precisam do meu National Insurance Number (número de segurança social do Reino Unido) e dos dados da minha conta bancária inglesa. Até agora sempre tinha entendido que ia receber através de uma espécie de bolsa, directamente para a minha conta portuguesa. Há algumas semanas disseram-me que quando chegasse me iam pedir os dados da minha conta para automatizarem os pagamentos, mas não referiram nada sobre a conta ter que ser inglesa.

Resultado, ontem de manhã liguei para o Jobcentre para pedir o meu National Insurance Number. Em princípio o processo vai ser fácil mas, para além de demorado, tenho de ir a uma entrevista. O problema é que só fazem essas entrevistas durante a semana, ou seja, vou ter que faltar ao trabalho ou pelo menos perder algumas horas. Por agora ficou marcado para dia 24 de Julho, quinta-feira, ao 12:50. Vou falar com a minha supervisora sobre isto. Talvez tente mudar para um dia logo de manhã ou ao final da tarde, como os patrões preferirem. Pelo menos não há problema em começar a trabalhar antes de ter este número mas só vou poder ser paga quando tiver tudo tratado.

Em relação à conta inglesa, passei o resto da manhã a procurar várias possibilidades. Alguns bancos deles referiam online que tinham opção de contas standard para estrangeiros. Apontei quais eram e decidi começar pelo Barclays, que é o banco mais próximo da minha casa. Andei cerca de 15 minutos para chegar até ao Barclays. Disseram-me que não podia abrir uma conta porque ia ficar no Reino Unido menos de três meses. Aconselharam-me a tentar abrir uma conta nos correios porque o mais certo era que não encontrasse nenhum banco onde pudesse abrir uma conta.

Andei mais 15 minutos até aos correios mas, como era um posto pequeno, não me souberam dar informação sobre abrir uma conta nos correios e disseram que o melhor era ir até ao posto dos correios principal, no centro da cidade.


Apanhei um autocarro de onde estava até ao centro da cidade. Já estou uma profissional dos autocarros! Sem ser o facto de serem caros, é mesmo muito simples ir onde quero a qualquer hora. Nem sequer me ter de preocupar com os horários porque os autocarros estão constantemente a passar.

Cheguei aos correios e tirei uma senha para ser atentida. Fiquei à espera quase meia hora pela minha vez. Quando finalmente fui atendida, a senhora do balcão disse-me que não me sabia dar informações, porque não era ela que tratava dos serviços financeiros dos correios. A senhora que responsável por isso estava a ter uma reunião com outro cliente e não me podia atender. A senhora do balcão deu-me o contacto da colega e disse-me para ligar dentro de meia hora e perguntar se me podia atender mais tarde.

Como tinha algum tempo para queimar, aproveitei para ir comprar as coisas para a cozinha. Fui ao Wilko que é basicamente um hiper mercado que só vende coisas para a casa. Tive que me controlar seriamente porque o Wilko tem TUDO e é tudo estupidamente barato. Como não vou ficar cá muito tempo esforcei-me por comprar o mínimo possível, escolher as coisas mais baratas e não quis saber da qualidade. Tenho, portanto:

  • um prato
  • uma taça de cereais (que vai fazer as vezes de prato de sopa se for preciso)
  • alguns talheres (comprei um pack porque saia mais barato do que comprar só um talher de cada)
  • uma caneca
  • duas frigideiras (mais baratas que uma)
  • uma panela
  • uma espátula de madeira (não havia colheres de pau)
  • um pirex pequenino
  • um tabuleiro

Em princípio vai ser o suficiente...caso não parta único prato raso que tenho. Comprei também as almofadas para a cama, yay!

Quando saí do Wilko telefonei para a senhora dos serviços financeiros. Como não me atendeu, decidi voltar aos correios, carregada de coisas de cozinha e duas almofadas gigantes. Neste altura já estava mesmo bastante farta de andar de um lado para o outro, principalmente porque estava cheia de calor. Achava que vinha para aqui passar frio, mas ainda não houve um único dia que precisasse de um casaco e andei sempre de vestidos sem mangas. Ainda por cima tem estado abafado por isso ao fim de cinco minutos a andar na rua já estou cheia de calor! Hoje o dia está mais feio...é capaz de - finalmente - chover!

A senhora dos correios entretanto foi directa para casa, depois da reunião com o outro cliente...A coisa não estava a correr bem. Um senhor muito simpático dos correios ajudou-me. Foi ver a agenda da colega para saber quando estava livre. O meu problema é que agora só vou ter os fins-de-semana para tratar destas coisas. A senhora está nos correios no próximo sábado e também tenho o contacto e-mail dela. Enviei-lhe uma mensagem a perguntar se era possível abrir a conta, o que era preciso e se podia lá ir no próximo sábado.

Entretanto estava absolutamente estoirada com tantas voltas e, depois de passar pelo Lidl, fui logo para casa, dar o dia por terminado por volta das 19h.

O que acho importante dizer, no meio disto tudo, é que apesar de não ter conseguido resolver grande coisa, as pessoas em Nottingham são mesmo MUITO prestáveis. Quer seja a dar direcções, a tentar ajudar-me a resolver os problemas ou no atendimento ao público, são sempre pacientes e parecem querer genuinamente ajudar. Aliás, tentam ajudar mesmo quando não pedimos ajuda! Já me aconteceu estar parada numa esquina a olhar para todo o lado, a tentar perceber para onde é que tenho de ir, e um senhor barrigudo me perguntar se queria direcções. Também houve outra vez em que estava no autocarro a perguntar ao motorista qual era a paragem em que tinha que sair para ir até à minha residência. O motorista não costumava fazer aquela carreira e não me soube responder, mas pediu imensas vezes desculpa por não me conseguir ajudar. Imediatamente duas velhotas que estavam sentadas na parte de trás do autocarro e chamaram-me para perguntar se precisava de ajuda e explicar-me logo onde precisava de sair. Pode parecer pouca coisa, mas estes pequenos gestos ajudam-me imenso a sentir-me em casa, numa cidade onde nunca estive antes!

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